top of page

[...]

minha negritude não é uma pedra, sua surdez lançada contra o clamor do dia

minha negritude não é uma mancha de água morta sobre o olho morto da terra

minha negritude não é uma torre nem uma catedral

 

121.

ela mergulha na carne rubra do solo

ela mergulha na carne ardente do céu

ela perfura o abatimento opaco com sua reta paciência.

 

(CÉSAIRE, 2012:65)

 

 

      O Cais do Valongo, com o descobrimento de suas antigas pedras, tem sido reconhecido como um dos mais importantes monumentos de memória, já que traz à tona novo interesse histórico não só pelo espaço da antiga cidade do Rio de Janeiro, mas também pelas condições do colonialismo escravocrata. Foi seu valor de memória que desencadeou o processo de solicitação de sua inscrição na lista do Patrimônio Mundial da Unesco, processo finalizado em 2017, quando o Comitê do Patrimônio Mundial publicou a decisão de incluir o cais em sua lista de reconhecimento internacional por “seu grande significado para gerações passadas, presentes e futuras no que se refere à história do tráfico atlântico e à escravização de africanos”.1 Kátia Bogea, presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - Iphan, na cerimônia que aprovou a inscrição do cais como patrimônio mundial declara:

      "Em momentos de elevada intolerância que ronda o mundo atual, o reconhecimento de sítios sensíveis coloca em evidência a necessidade de compartilharmos nossa experiência em prol de uma visão mais humanista da sociedade global, a partir da observação do que o Cais do Valongo significou e da sua reapropriação social nos dias atuais, em especial, pelos descendentes afro-brasileiros, que numa atitude de superação reafirmam sua negritude e sua história para o Brasil, as Américas e todo o Mundo.2"

 

      Como escreveu Carlos Eugênio Líbano Soares, a cidade que mais recebeu escravos africanos nas Américas durante o período da diáspora atlântica foi o Rio de Janeiro (SOARES, 2013: 10). Seguindo os dados da pesquisa de Mary Karasch,3 Soares afirma que quase um milhão de africanos desembarcaram na cidade somente entre 1779 e 1831. O local exclusivo de desembarque era o complexo do Valongo formado pelo cais de pedra, construído em 1811 no lugar da antiga ponte de madeira; a rua do Valongo, atual Camerino, onde ficavam os principais depósito da “mercadoria negra”; o Cemitério dos Pretos Novos, hoje Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos, na rua Pedro Ernesto, onde os corpos dos que não resistiam à longa travessia ou que morriam antes de serem vendidos eram sepultados coletivamente4; e o Lazareto dos Escravos, na antiga rua da Gamboa, onde os africanos enfermos recebiam os primeiros tratamentos de saúde após chegar ao Brasil.

      A escavação do Cais do Valongo faz parte do movimento de irrupção desse passado enquanto memória, que ativa o reconhecimento da brutalidade imposta pelo regime colonial e escravocrata aos corpos dos africanos que aqui chegavam, assim como da permanência que essas crueldades assumem enquanto racismo discriminatório e perverso, que nos chega no presente. A pedras encontradas nas escavações do Cais remontam à construção de 1811 arquitetada para atender a crescente chegada de escravizados africanos ali desembarcados desde 1779, prática que se prolongou até o ano de 1831, quando o tráfico foi legalmente proibido. Encontrou-se, também, as pedras que foram utilizadas em 1843, quando o Cais do Valongo, que já não recebia escravizados, foi reformado para a chegada da Imperatriz Tereza Cristina de Bourbon, esposa do Imperador D. Pedro II, e que, a partir de então, passou a ser denominado Cais da Imperatriz. Entretanto, desde a reforma da região portuária no início do século XX, o Cais foi definitivamente aterrado, dando lugar à antiga praça localizada entre as ruas Barão de Tefé e Sacadura Cabral, onde se localiza hoje o sítio arqueológico do Valongo.

      Já no início das últimas obras requeridas para a reforma da região do Porto do Rio de Janeiro, que começaram em 2011 como obras preparatórias para as Olimpíadas de 2016, veio à tona, como um sintoma, o que restou dos antigos Cais do Valongo e Cais da Imperatriz e de toda a história do genocídio do negro no Brasil, que ali esteve submersa e recalcada. Como escreveu Andreas Huyssen, foi depois do colapso das utopias do século XX que o discurso sobre a memória surgiu em diferentes partes do mundo, ganhando força nas décadas de 1980 e 1990, e possibilitando novos discursos memoriais. Segundo Huyssen (2014, p. 195), “o movimento internacional dos direitos humanos e os fluxos transnacionais da política da memória expressam, desde a década de 1990, uma conjuntura fundamentalmente nova”.

     Contemporaneamente, são sobretudo os estudos da memória traumática que embasam os atuais discursos sobre direitos humanos, originários dos discursos jurídicos, morais e filosóficos sobre o genocídio e a violação dos direitos humanos após a Segunda Guerra Mundial. A Declaração Universal dos Direitos Humanos e a Convenção das Nações Unidas sobre o genocídio, de 1948, foram resultados dos estudos da memória pós-genocídio na Europa. Nesse contexto de memória traumática é que pensamos ser possível observar os movimentos de reconhecimento do Cais do Valongo, já que o cais traz em si as marcas da diáspora africana, das transferências forçadas de populações africanas e do genocídio, como escreveu Abdias Nascimento (2016), exigindo uma história que dê visibilidade aos traumas.

 

       Em 2016, Elisa Larkin Nascimento, por ocasião da reimpressão do livro O genocídio do negro brasileiro, de Abdias do Nascimento, no texto do posfácio “O genocídio no terceiro milênio”, chama atenção para a permanência da matança diária de dezenas de pessoas, tema de comissões parlamentares e organizações de direitos humanos. Diariamente, observa Elisa, as famílias de comunidades, majoritariamente negras, assistem à morte de seus filhos, netos, sobrinhos, irmãos. Se esse genocídio diário faz irromper movimentos de resistência entre jovens e mulheres negras, cujo luto não impede organização e resistência, espalha-se na sociedade da elite brasileira – com o apoio das mídias –, sobretudo na branca e heteronormativa, sentimentos de medo e rejeição das populações de baixa renda, sublinhados pelo racismo que se imprimiu desde a colonização e a escravização dos africanos aqui chegados. Como ressalta Elisa, “Pesquisas estatísticas oficiais e acadêmicas comprovam que as desigualdades raciais não se explicam unicamente por fatores econômicos; a discriminação racial se confirma como fator estruturante”(NASCIMENTO, 2016, p. 219).

       O livro de Abdias, publicado originalmente em 1978, contém o texto apresentado no Segundo Festival Mundial de Artes e Culturas Negras e Africanas, em Lagos, na Nigéria, em 1977, quando o artista, teatrólogo e político-ativista fez a denúncia do racismo brasileiro, desconstruindo em foro internacional a versão oficial da “democracia racial”, que divulgava uma suposta ausência de discriminação racial no país. Desde então alguns fatos contribuíram para o combate ao racismo e às desigualdades sociais da sociedade brasileira. Nos anos 1980 e 1990 o movimento social afro-brasileiro cresceu e passou a fazer parte das pautas de políticas públicas e a formular propostas antidiscriminatórias e de ação afirmativa. Dois dos dispositivos mais eficazes foram as políticas de cotas raciais nas universidades públicas e a criminalização da discriminação racial, dispositivos que estão no bojo da afirmação multicultural e pluriétnica da sociedade brasileira. A partir de 2003, a implantação de políticas antidiscriminatórias levou o Brasil a ser uma referência na América Latina e Caribe no sentido de buscar caminhos para superar o racismo, agindo em um processo de decolonização. Infelizmente esse processo está sob forte ataque dos poderes instituídos e desde a última eleição de 2018, caminha para o desmanche.

       Para cartografar modos de ativar contemporaneamente em arte um lugar de memória da diáspora africana, da maneira como pensamos fazer, nos parece importante desenterrar as condições do que Abdias chamou de genocídio do negro brasileiro. Para isso voltamos a meados de 1770, quando o desembarque de negros africanos acontecia no ancoradouro da rua Direita, hoje praça XV − próximo ao que em 1820 se tornou a Casa do Comércio e depois, em 1824, a Alfândega, hoje Casa França-Brasil −, e os escravizados eram negociados na rua Primeiro de Março, a principal da cidade. Em 1774, por decreto do vice-rei do Brasil, Marquês do Lavradio, ficou determinada a transferência do desembarque, assim como do mercado, para a região periférica e de difícil acesso do Valongo, uma vez que a crescente população do Rio de Janeiro passara a reclamar dos negros e negras, que acabavam de desembarcar quase desnudos, com sinais de doenças, que circulavam na vizinhança do Paço.

A pintora, desenhista e escritora inglesa Maria Graham − que veio ao Brasil na companhia de seu marido, o capitão da Marinha britânica Thomas Graham e foi, também, preceptora da princesa Dona Maria da Glória, filha de D. Pedro I − publica, em 1824, seu Diário de uma viagem ao Brasil, por ela ilustrado e no qual descreve cenas que, em sua visão aguda e crítica, assim percebe:

1º Maio − Eu vi este dia o Val Longo; é o mercado de escravos do Rio. Quase todas as casas nesta longa rua são um depósito para escravos. Ao passar pelas portas esta noite, vi na maioria delas bancos compridos colocados perto das paredes, sobre os quais fileiras de jovens criaturas estavam sentadas, suas cabeças raspadas, seus corpos macilentos, com marcas de recente coceira em suas peles. Em alguns lugares, as pobres criaturas estavam deitadas em esteiras, evidentemente doentes demais para se sentar. Numa casa, fechada à meia-porta, um grupo de meninos e meninas, aparentemente com menos de quinze anos de idade, e alguns muito abaixo, estavam debruçados sobre as escotilhas olhando para a rua com rostos estranhos. Eles eram evidentemente negros completamente novos (GRAHAM, 1924, p. 227; tradução nossa).5

 

       Para os habitantes das cercanias do Paço, portanto, era preciso remanejar o cais e o mercado para bem longe, para um local de menor exposição e visibilidade, onde os negros não constituíssem ameaça nem provocassem desconforto. No relatório redigido quando de sua partida do Brasil, tendo deixado o posto de vice-rei, o Marquês do Lavradio explica essa transferência:

 

Foi a resolução ordenar que todos os escravos que viessem nestas embarcações, logo que dessem sua entrada na Alfândega, pela porta do mar, tornassem a partir e embarcassem para o sitio chamado Valongo, que é no subúrbio da cidade separado de toda comunicação e que ali se aproveitassem das muitas casas e armazéns que ali há […]Vigiei muito cuidadosamente sobre a execução desta ordem; ainda que com trabalho consegui que ela se executasse; visivelmente se conheceu os benefícios que receberam na saúde os povos; até os mesmos escravos se restituíam mais facilmente das moléstias que traziam; aquele grande fétido que havia já não se sente; e hoje todos conhecem o benefício que daqui lhes tem resultado.6

 
       A escavação do Cais do Valongo faz parte desse movimento de irrupção do passado, que ativa o reconhecimento dos traumas impostos pelo regime colonial e escravocrata aos corpos e almas (Fanon, 2008) dos africanos que aqui chegavam, assim como da permanência desses traumas perpetuados no racismo discriminatório e perverso. 
 
       No texto Discurso sobre o colonialismo, de 1950, o poeta Aimé Césaire, escreve:

[…] eu falo de milhares de homens sacrificados, […] falo de milhões de homens arrancados aos seus deuses, à sua terra, aos seus hábitos, à sua vida, à vida, à dança, à sabedoria. Falo de mihões de homens a quem inculcaram o medo, o complexo de inferioridade, o tremor, a genuflexão, o desespero, o servilhismo (CÉSAIRE: 1978: 25).

      O tráfico, a mercantilização e a escravização de centenas de milhares de africanos aqui chegados, que foram arrancados a seus deuses, a sua terra, como escreveu Césaire, e submetidos à tirania dos traficantes e das autoridades receptoras, que os tratavam como “peças” a ser examinadas e vendidas, trazem ainda à superfície da história uma deliberada relação que une memória e esquecimento, como atestam os sucessivos aterramentos do Cais, sobretudo o último, que o faz desaparecer.

      A história, porém, tem seus subterrâneos e fantasmas (Didi-Huberman, 2013), que, assim como os povos e os sujeitos que a escrevem, estão em constante erupção, o que nos faz olhar para esse cais revelado nas escavações com novo olhar, o olhar atento aos movimentos que se agitam não mais apenas nas representações pictóricas de Rugendas e Thomas Ender, mas nas ativações de suas pedras e arredores. São movimentos em arte que fazem vir à tona discursos por muito tempo inaudíveis, que rompem as camadas de terra e se fazem ouvir como discursos de arte e negritude.7

       A região do cais vem sendo hoje lugar de inúmeras performances de artistas das mais variadas procedências. Ayrson Heráclito, artista baiano da cidade de Cachoeira, por ocasião da exposição Arte Democracia Utopia − quem não luta tá morto, sob curadoria de Moacir dos Anjos, inaugurada em setembro de 2018 no Museu de Arte do Rio, próximo ao cais, na região reconhecida como Pequena África8, instalou um vídeo da performance Sacudimentos,9 que realizou no Cais do Valongo e também no prédio anexo ao Museu, em que funciona a Escola do Olhar. Junto ao monitor de TV que expõe o vídeo, o artista dispôs, ainda, os materiais e utensílios usados no ritual de limpeza, que é, como Ayrson observa, uma “exorcização dos fantasmas da sociedade colonial”. Sacudimentos já havia sido feito em 2015 e apresentado na Bienal de Veneza em 2017. Em sua primeira versão, os vídeos, que foram mostrados concomitantemente em duas paredes frontais, haviam sido desenvolvidos nas duas margens do Atlântico, correspondendo à Casa da Torre, sede de um grande latifúndio da Bahia, e à Maison de los Esclaves, em Goré, no Senegal. São dois monumentos que se ligam pelo tráfico de escravos e pela colonização. Praticante do candomblé, Ayrson acredita na arte como uma forma de cura. O que fez no Rio de Janeiro, então, foi um exercício poético de limpeza e cura também de dois lugares de tristes memórias: o cais, por ter sido o lugar histórico de chegada e venda de corpos de homens, mulheres e crianças, e o prédio da atual Escola do Olhar, um espaço de educação, para que não esqueçamos a ferida da escravidão, mas para que não esqueçamos também o período da ditadura civil-militar no Brasil, quando a discriminação racial era justificada pelas forças de repressão pela resistência que a cultura negra fazia ao poder ditatorial, como foi a produção cinematográfica de Zózimo Bulbul, diretor, ator e produtor do filme Alma do Olho, de 1974.

 

        O prédio da Escola do Olhar, que se une hoje ao Palacete Dom João VI − prédio eclético de 1910 −, para formar o Museu de Arte do Rio, além de ter sido o antigo Terminal Rodoviário Mariano Procópio, nos anos 1950, foi também lugar do Hospital da Polícia Civil José da Costa Moreira, na década de 1960, lugar de recordações da ditadura civil-militar no Rio de Janeiro. Uma das questões que Ayrson discute nessa performance situada não só em um dos mais intensos memoriais da violência contra os negros escravizados, mas também em seu duplo, enquanto sítio de memória da violência da ditadura, é o mito da democracia racial, ideologicamente defendida pela ditadura como uma “máscara branca” imposta com o propósito de dissolver as lutas identitárias que se colocaram como revolta e resistência nos anos de chumbo.

       Outra importante ativação de memória, já não diretamente localizada no cais, mas em sua região, foi realizada por Rosana Paulino, artista paulista, cujos trabalhos desde a década de 1990 discutem o lugar subalterno dos negros e negras na sociedade brasileira. Em 2015 Rosana expôs no Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos – IPN Museu Memorial - gravuras em técnica mista da série Assentamento, que nessa mostra ganha o título Assentamento(s) Adão e Eva no paraíso brasileiro e remetem à preocupação da artista com a representação da diáspora africana na sociedade e na arte do país. Adão e Eva, protagonistas da criação da humanidade na história bíblica de tradição ocidental judaico-cristã, são representados por imagens de negras e negros, cuja referência, como de toda a série Assentamentos, são as fotografias do período de colonização escravista, algumas delas feitas pelo fotógrafo August Stahl (1865), a pedido do cientista criacionista Louis Agassiz, que estudou no Brasil os biotipos negros para atestar sua hipótese de que seriam seres inferiores aos brancos. Eva e Adão são gravuras da série, cujas imagens de negros escravizados estão envoltas em exemplares da flora brasileira, assim como de ossadas do paraíso tropical. Se a vegetação refere-se ao ideal paradisíaco dos trópicos, uma construção do Outro colonizador, cujo interesse maior é a exploração mercantil da riqueza natural, as ossadas são consequência direta dessa colonização, que reduziu homens e mulheres a coisas a ser mercantilizadas. A morte e os ossos humanos no paraíso dos trópicos nada mais são do que a consequência da coisificação “naturalizada” dos corpos de seres inferiorizados (FANON, 2008, p. 103), cujas covas coletivas do Cemitério dos Pretos Novos são testemunhos e comprovação.

     Considerando o surgimento nos últimos anos de uma verdadeira geração de artistas da negritude, como Daniel Lima, da Frente 3 de Fevereiro, Dalton Paula, Arjan Martins, Michelle Matiuzzi, Moisés Patrício e Paulo Nazareth − que trazem para o circuito de arte, como para a história da arte, a efetiva presença de artistas negros, mas também os debates sobre o colonialismo, o racismo e o trauma na história da sociedade −, passamos ainda a considerar nesse contexto do Cais do Valongo a obra de Jayme Lauriano, uma vez que o Museu de Arte do Rio foi também o lugar da inserção de Jayme por ocasião da mostra Rio de samba: resistência e reinvenção10. O artista paulista fez uma modificação no calçamento português da entrada do museu, inserindo textos contendo a nomenclatura de diversas etnias provenientes do continente africano, como diz, “sequestradas para trabalharem em situação de escravização das américas”. Na pilastra principal do térreo, pintada de preto, escreve: “Um dos principais símbolos da invasão e colonização portuguesa, o calçamento português assentava a chegada dos colonizadores no Novo Mundo. Era comum que a mão de obra utilizada fosse de pessoas escravizadas.” Ainda no calçamento, já fora do portão do Museu, insere a frase A História do Negro/Uma Felicidade Guerreira, que nos remete ao sentido de resistência, mas também de poder e contentamento.

Notas e Referências:

 

1 Do texto de reconhecimento consta, ainda, que o Cais pode ser considerado o lugar mais importante de memória da diáspora africana fora da África, sendo o maior porto de entrada de negros escravizados na América Latina. Cais do Valongo é o novo sítio brasileiro inscrito na Lista do Patrimônio Mundial da UNESCO. UNESCO Office in Brasília, 9 jul. 2017. Disponível em <http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/about-this-office/single-view/news/valongo_wharf_is_the_new_brazilian_site_inscribed_on_unesco/>. Acesso em 2 nov. 2018.

2Cais do Valongo (RJ) ganha título de Patrimônio Mundial. Publicada em 3 jul. 2017. Disponível em <http://portal.iphan.gov.br/noticias/detalhes/4188/cais-do-valongo-rj-pode-se-tornar-patrimonio-mundial>. Acesso em 2 nov. 2018.

3 Apud SOARES, Carlos Eugênio Líbano. Valongo, Cais Dos Escravos: Memória Da Diáspora E Modernização Portuária Na Cidade Do Rio De Janeiro, 1668 – 1911. Rio de Janeiro, 2013, 113 p. – Departamento de Antropologia, Programa de Pós- Graduação em Arqueologia, Museu Nacional, UFRJ.

4 Pereira, Júlio César Medeiros da Silva
. À flor da terra: o cemitério dos pretos novos no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Garamond, IPHAN, 2007.. 


5 May lst. − I have this day seen the Val Longo; it is the slave-market of Rio. Almost every house in this very long street is a depôt for slaves. On passing by the doors this evening, I saw in most of them long benches placed near the walls, on which rows of young creatures were sitting, their heads shaved, their bodies emaciated, and the marks of recent itch upon their skins. In some places the poor creatures were lying on mats, evidently too sick to sit up. At one house the half-doors were shut, and a group of boys and girls, apparently not above fifteen years old, and some much under, were leaning over the hatches, and gazing into the street with wondering faces. They were evidently quite new negroes. (GRAHAM, Maria. Journal of a Voyage to Brazil. And Residence There during past of the years 1821, 1822, 1823. London: A. & R. Spottiswoo, 1824).

6 Instruções do Marquês do Lavradio a seu sucessor como vice-rei. Arquivo Nacional, Rio de Janeiro, Caixa 746, Fundo Vice-Reinado.

7 O termo negritude apareceu pela primeira vez em 1939, no poema “Cahier d’un retour au pays natal” do antilhano Césaire. Em sua fase inicial, o movimento da negritude tinha caráter cultural. A proposta era negar a política de assimilação à cultura branca. O dilema para os africanos e negros da diáspora, assevera Frantz Fanon (2008), deixou de ser “embranquecer ou desaparecer”. Para rejeitar esse processo de alienação, os protagonistas da ideologia da negritude passaram a resgatar e a enaltecer os valores e símbolos culturais de matriz africana

8 GUIMARÃES, Roberta Sampaio. A utopia da Pequena África. Projetos urbanísticos, patrimônios e conflitos na zona portuária carioca. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2014.

9 O ritual do sacudimento é realizado no Recôncavo baiano com bastante frequência pelas pessoas ligadas a religiões de matrizes africanas. É prática importante a de limpar o espaço e afugentar dos ambientes domésticos sobretudo os espíritos dos mortos, os eguns. Quando se muda para uma casa nova, chama-se alguém para fazer um sacudimento e tirar  esses espíritos ruins que tendem a permanecer entre os vivos, trazendo infortunas. Entrevista. Disponível em: <https://artebrasileiros.com.br/sub-home2/ayrson-heraclito-um-artista-exorcista/>. Acesso em 4 out. 2018.

10 Com curadoria de Nei Lopes, Clarissa Diniz, Marcelo Campos e Evandro Salles a mostra subdividia-se em três núcleos. Um deles referia-se à herança africana na formação da cidade, sobretudo da zona portuária, onde estão os terreiros e as casas das tias, que terão papel central no surgimento do samba carioca. Museu de Arte do Rio, abril de 2018 - abril de 2019.

ABREU, Maurício. Evolução urbana do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: IPP, 2013.

ALMEIDA, Silvio. O que é o racismo estrutural. Belo Horizonte: Letramento, 2018.

BHABHA, Homi K. O local da cultura. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2005.

CÉSAIRE, Aimé. Cahier d’un retour au pays natal. Diário de um retorno ao país natal. Tradução, posfácio e notas Lilian Pestre de Almeida. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2012.

_________. Discurso sobre o colonialismo. Lisboa: Livraria Sá da Costa Editora, 1978.

CONDURU, Roberto (curadoria). Negros indícios. São Paulo: Espaço Donas Marcianas, 2017.

DIDI-HUBERMAN, Georges. A imagem sobrevivente. Rio de Janeiro: Contraponto, 2013.

FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. Salvador: EDUFBA, 2008.

GIMENEZ, Jessica Silva Tinoco. A Pequena África como patrimônio histórico cultural: uma reflexão sobre a história do Cais do Valongo. XVIII Encontro de História Anpuh-Rio: História e Parcerias, Anais. Rio de Janeiro: Anpuh, jul. 2018 <https://www.encontro2018.rj.anpuh.org/resources/anais/8/1529373196_ARQUIVO_APequenaAfricacomopatrimoniohistoricoculturalumareflexaosobreahistoriadoCaisdoValongo.pdf>.

GRAHAM, Maria. Journal of a voyage to Brazil. And residence there during past of the years 1821, 1822, 1823. London: A & R Spottiswoo, 1824.

GUIMARÃES, Roberta Sampaio. A utopia da Pequena África. Rio de Janeiro: Editora FVG, 2014.

HALL, Stuart. Da diáspora: identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011.

HUYSSEN, Andreas. Culturas do passado-presente: modernismos, artes visuais, políticas da memória. Rio de Janeiro: Contraponto; Museu de Arte do Rio, 2014.

MBEMBE, Achille. A crítica da razão negra. São Paulo: n-1edições, 2018.

NASCIMENTO, Abdias. O genocídio do negro brasileiro: processo de um racismo mascarado. São Paulo: Perspectiva, 2016.

RIBEIRO, Djamila. O que é lugar de fala. Belo Horizonte: Letramento, 2017.

SILVA, Lucia. Freguesia de Santana na Cidade do Rio de Janeiro: territórios e etnia no último quartel do século XIX. Revista eletrônica do centro interdisciplinar de estudos sobre a cidade, v. 7, n. 10, jan.-ago. 2015. Dossiê história urbana: a configuração de um campo conceitual.

SOARES, Carlos Eugênio Líbano. A Pequena África: um portal do Atlântico. Rio de Janeiro: Ceap, 2011.

_________. Valongo, Cais Dos Escravos: Memória Da Diáspora E Modernização Portuária Na Cidade Do Rio De Janeiro, 1668 – 1911. Rio de Janeiro: Departamento de Antropologia, Programa de Pós- Graduação em Arqueologia/Museu Nacional/ UFRJ, 2013

A memória do cais: ativações em arte nos tempos de resistência.
Sheila Cabo Geraldo  

bottom of page